A gestão da governadora Raquel Lyra (PSD) vai fechar mais uma estrutura da rede pública de saúde. Desta vez, é a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica do Hospital Correia Picanço, no Recife, referência estadual em meningites, meningoencefalites e doenças neuroinvasivas. A medida mobilizou membros da equipe do hospital, que chegaram a gravar vídeos e divulgar uma carta aberta com preocupações sobre possíveis prejuízos decorrentes da decisão.
“O fechamento ou enfraquecimento desse serviço teria consequências gravíssimas para a saúde pública de Pernambuco, uma vez que o Correia Picanço é o único hospital público pediátrico do Estado com UTI especializada em meningites e leitos de isolamento, essenciais para evitar surtos e garantir tratamento seguro”, afirma o documento, que elenca como possíveis prejuízos o aumento da mortalidade, a apresentação de sequelas nos pacientes e a sobrecarga de outras unidades de saúde.
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O Governo do Estado vem justificando a medida como necessária para transferir os serviços para o Hospital Barão de Lucena, também no Recife, tendo em vista a maior demanda por leitos pediátricos em meio à sazonalidade de doenças respiratórias. O argumento é de que, no Correia Picanço, não há espaço para ampliação. A equipe da unidade afetada, porém, defende que o ideal seria manter os cinco leitos ativos no Correia Picanço e implantar outros no Barão de Lucena.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, o enfermeiro Victor Cabral, que trabalha no Correia Picanço, explica que a elevada taxa de sucesso da equipe é decorrente do atual dimensionamento, com cinco leitos. Isso leva em conta que as doenças meningocócicas, por sua gravidade e natureza infecciosa, requerem equipes dedicadas a menos pacientes. Significa que a concentração de uma só equipe para atender dez leitos no Barão de Lucena pode afetar a efetividade dos atendimentos.
“Venho manifestar preocupação com o possível desmonte e fechamento da nossa UTI Pediátrica. Atualmente, nossa UTI conta com cinco leitos especializados, leitos com pressão negativa, porque lidamos com doenças infectocontagiosas. Quando a UTI foi projetada, entendeu-se que não era possível atender uma criança com meningite grave com um dimensionamento superior a esse. E o Estado, em uma tentativa incorreta, quer realocar as equipes para aumentar o número de leitos”, afirmou.
A equipe signatária da carta conclui que “o fechamento do serviço de UTI Pediátrica/Pediatria do Hospital Correia Picanço seria um retrocesso e uma tragédia para a saúde das crianças de Pernambuco”. Avalia ainda que não se pode permitir que “uma geração inteira fique desassistida” e que é fundamental “garantir que os pacientes pediátricos tenham o a atendimento especializado e de alta qualidade para condições graves como a meningite”.
O fechamento de unidades ou serviços de saúde não é novidade no Governo Raquel Lyra. Em junho de 2023, a atual gestão desmobilizou o Hospital de Retaguarda em Neurologia, no Recife, o que gerou sobrecarga no Hospital da Restauração, maior emergência pública do Norte/Nordeste. Já no último dia 30 de maio, diversos contratos do Hospital Jesus Nazareno, em Caruaru, no Agreste, foram extintos, o crucial para a desativação da unidade.
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