Um Lula sem elã na marcha 1s4p42
Nunca o presidente Lula (PT) fez um discurso tão insosso, sem contagiar e tão fora de contexto quanto o de ontem na abertura da marcha dos prefeitos, em Brasília. Além de curto e sem emoção, frustrou os gestores municipais que aguardavam com expectativas que ele assumisse a briga municipalista pela aprovação da PEC 166, que trata das dívidas dos municípios com a Previdência.
É possível que Lula tenha ficado desnorteado pelas vaias que levou de um auditório lotadíssimo. Segundo o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, esta é a maior marcha dos últimos anos. Tão participativa que foi obrigado a fechar as inscrições ontem, com quase 15 mil cadastros. O ambiente tensionado provavelmente mexeu com o emocional do chefe da nação.
Leia maisLula foi vaiado três vezes. Quando foi anunciada a sua entrada, no momento em que foi chamado a discursar e, no encerramento da sua fala, recebeu uma nova vaia de parte da plateia. No seu discurso, o presidente destacou que, em seu governo, os prefeitos não sofrem discriminação por causa da preferência partidária.
“A prova disso é o PAC Seleções, que vai ser feito para construção de casas. Vocês vão ter direito a casa independentemente do partido, se vocês gostam ou não do presidente. Isso não está em jogo. O que está em jogo é a necessidade dos moradores de cada cidade que precisam de casa — disse, sendo, neste momento, aplaudido pela plateia.
Ao discursar, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios se queixou das despesas crescentes a cargo dos municípios e também criticou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de exigir transparência para a liberação de emendas. “Abra o olho. Vamos votar pautas estruturantes — disse Paulo Ziulkoski, ex-prefeito de Mariana Pimentel (RS), se dirigindo a Lula, e se referindo às dificuldades que a paralisação dos pagamentos de emendas pode gerar.
Na sua vez de falar, Lula ironizou o presidente do CNM ao dizer que ele voltou a ter um discurso duro de cobrança. O presidente sugeriu de forma indireta que Ziulkoski, durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), teria uma outra postura.
OU RECIBO – Logo na abertura de sua fala, Lula fez elogios ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, que vinha sendo apontado como suspeito de ter vazado a intervenção feita pela primeira-dama Janja da Silva em jantar com o presidente da China, Xi Jinping, na semana ada, para falar sobre o TikTok. “O Rui é tratado como se fosse um cara que não deixa as coisas acontecerem. Quando, na verdade, todos vocês, prefeitos, devem ter um secretário que tem o mesmo papel que o chefe da Casa Civil. É fazer com que as coisas funcionem corretamente e que todos os secretários se dirijam a ele para que as coisas possam dar certo. Quero aproveitar, na frente dos prefeitos, para agradecer o papel importante e relevante do Rui Costa. O governador mais bem-sucedido da Bahia joga no meu governo”, afirmou.

Anúncio tímido – Ao fim da cerimônia de abertura da Marcha, o ministro das Cidades, Jader Filho, anunciou que o governo abrirá as inscrições para que os municípios recebam 130 mil novas unidades da Faixa 1 (destinada a famílias com rendas de até R$ 2.850) do programa Minha Casa, Minha Vida. A marcha tem o objetivo de levar para o governo federal e para o Congresso as demandas dos municípios do país. Além de prefeitos, secretários e vereadores também estão na capital federal.
O amor é lindo – A primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, está na lista dos 41 artistas e produtores que serão premiados com o maior grau da Ordem do Mérito Cultural (OMC), a principal honraria pública do setor cultural brasileiro. A homenagem foi atribuída pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela ministra da Cultura, Margareth Menezes. Janja será reconhecida no grau Grã-Cruz, o maior de três graus, destinado a um seleto grupo de personalidades culturais. Além da primeira-dama, fazem parte da lista nomes como Alceu Valença, Aldir Blanc, Alcione, Beth Carvalho (in memoriam), Chitãozinho e Xororó, Xuxa, Marcelo Rubens Paiva, Walter Salles, Fernanda Torres e Paulo Gustavo (in memoriam).
Em defesa da primeira-dama- O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou, ontem, no Senado que foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quem pediu “auxílio” à primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, ao falar sobre redes sociais em jantar o presidente da China, Xi Kinping, durante visita oficial ao país. Vieira compareceu a uma reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado a convite dos senadores oposicionistas Espiridião Amin (PP-SC) e Sérgio Moro (União-PR). Moro o questionou sobre o episódio.

Frustração geral – Na condição de presidente do Coniape, o maior e mais importante consórcio do Estado, o prefeito de São Caetano, Josafá Almeida (UB), revelou com precisão o sentimento de desapontamento dos gestores municipais presentes à Marcha com a fala do presidente Lula: “O que todos os prefeitos queriam ouvir era um posicionamento favorável dele à PEC 166, que trata do endividamento dos municípios com o pagamento das dívidas previdenciárias. Isto, sim, era o que nos interessava, porque todos os municípios foram prejudicados pela reforma da Previdência aprovada pelo Congresso”, afirmou.
CURTAS
Mobilização – Ainda sobre a fala frustrante de Lula, o presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), Marcelo Gouveia, confirmou que havia recebido do presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, uma sinalização de que o petista iria assumir o compromisso com a pauta da marcha, inclusive a PEC 166.
Tava no script – “Não sei o que houve, mas o presidente Lula falou de improviso, abrindo mão de uma fala escrita, na qual estava seu compromisso com nossas causas”, disse Gouveia, que também ficou desapontado.
Lavada de mãos – Em suas falas, os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, também foram genéricos, não assumindo as bandeiras municipalistas. Sequer se referiram a qualquer projeto de interesse dos prefeitos em tramitação no Congresso, nem muito menos à PEC 166.
Perguntar não ofende : Se a moda de vaia pega?
Leia menos